Nos dias 16 e 17 de julho de 1932 é celebrada pela primeira vez em Vila Franca de Xira a Festa do Colete Encarnado. Nascida pela vontade de um grupo de Vila-Franquenses à frente dos quais se encontrava José Van-Zeller Pereira Palha tem na sua origem a angariação de fundos para os bombeiros da terra.

A ligação entre o Homem e o campo, o rio e a lezíria presentes na identidade única de Vila Franca estão na génese daquela que é a Festa Maior desta cidade. É natural por isso que nesta festa onde o campo é trazido para a cidade, o Campino, figura representativa desse mundo esteja desde logo presente.

Em 1932, 50 campinos vindos das cortes da Castanheira desfilaram pelas ruas de Vila Franca até à Praça de Toiros Palha Blanco, foi celebrada uma corrida de toiros, e uma espera nas ruas, houve baile e no Celeiro da Patriarcal teve lugar uma festa regional reservada a convidados.

Ao longo dos anos a festa transformou-se cada vez mais numa homenagem ao Campino e às gentes que trabalhavam no campo. Dos dois dias iniciais a festa mudou para três, ao longo dos quais se experienciam as esperas e largadas, as corridas de touros, a música, a alegria e o convívio pelas ruas da cidade.

Em 90 anos muitas foram as histórias, as transformações e revezes de uma das mais emblemáticas festas do Ribatejo.

Após dois anos de interregno devido à pandemia, o Colete Encarnado regressa este ano às ruas da cidade, para celebrar com todos os 90 anos da sua existência.

Para assinalar esta data serão realizadas diversas iniciativas, entre as quais destacamos a exposição comemorativa, no Celeiro da Patriarcal, onde será transmitido um maior conhecimento da festa aproximando e alinhando o público com a identidade da cidade de Vila Franca de Xira.

Após seleção entre 504 candidaturas ao Concurso que, por excelência, tem vindo a promover a identidade nacional, o Colete Encarnado competiu entre um total de 14 patrimónios culturais de grande valor, de Portugal continental e insular.

Foi vencedor na região de Lisboa a 12 de agosto’20, na semifinal, a 23 de agosto, apurado finalista e, na grande final, recebeu o título, fazendo jus à homenagem que preconiza, anualmente, à figura ímpar do Campino.

Estes resultados foram possíveis pela mobilização que se gerou em torno desta candidatura e pelo enorme apoio recebido de todos quantos já experienciaram esta festa e que sabem ser de emoções únicas. Também a madrinha nesta competição, Dália Madruga Tenório, contribuiu para o reconhecimento daquele que é um dos cartões de visita do Ribatejo, do País e mesmo além-fronteiras. Contrariando a tendência para a quebra da autenticidade e crescente globalização, fazemos da base cultural, sobretudo a popular, a marca que nos diferencia.

O galardão “7 Maravilhas da Cultura Popular” atribuído à Festa “Colete Encarnado” veio confirmar o empenho e a fama atestada na preservação deste valor único e peculiar da figura tradicional do Campino.

A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira submeteu a 21 de abril’21, à Direção Geral do Património Cultural (DGPC), a candidatura visando a inscrição da Festa Colete Encarnado no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Para o efeito foi realizado o levantamento, catalogação e seleção da documentação de suporte e fundamentação. Foram compilados documentos, imagens, suportes gráficos como cartazes e programas de promoção, recortes de imprensa, reportagens, vídeos e testemunhos vivos de algumas das figuras intervenientes e relevantes da Festa (como campinos e tertúlias).

Este trabalho, iniciado em 2018, contou com a colaboração da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira e da Empresa Quaternaire Portugal.

De acordo com o legalmente estabelecido, caberá ao painel de peritos da DGPC efetuar a avaliação da candidatura e de toda a documentação que a suporta, esperando-se que, em breve, possa ser tomada a decisão final. Se for aprovada, o Colete Encarnado passará a estar inscrito no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, condição fundamental para uma eventual Candidatura a Património Imaterial da UNESCO.

As Festas do Colete Encarnado tiveram a sua primeira edição em 1932, mantendo até aos dias de hoje o seu principal objetivo, de prestar homenagem à figura ímpar do Campino. Ao longo de 90 anos, o evento foi crescendo e afirmando a vivência de Vila Franca de Xira e do Concelho, trazendo o campo à cidade numa simbiose que marca a cultura local e que faz a cada ano reviver as tradições seculares do povo vila-franquense.